Agrupamento para defesa abstrata de princípios e elevação de alguns cidadãos.’ Essa frase é a definição dada à palavra ‘partido político’, escrita por Carlos Drummond de Andrade em seu livro de aforismo O avesso das coisas. De acordo com o dicionário Aurélio, aforismo é uma sentença moral breve e conceituosa, muito das vezes conhecida como máxima. Porém, o próprio Drummond, falando sobre seu livro, preferiu definir os aforismos como mínimas, simplesmente por representarem, segundo ele, uma breve experiência vivida, que não chega a alcançar a total sabedoria. Ora, qual definição, portanto, daríamos para os partidos políticos? Dentro do conceito dado por Drummond e a nossa realidade atual, chegaríamos às outras duas palavras: ideologia e fisiologismo.
A primeira, na prática, seria pouco usada pelos partidos, cabendo tão somente à formação da sigla da legenda partidária; a segunda, talvez definidora de tudo, é muito usual empiricamente pelas organizações partidárias e seus afiliados. Qual o papel, portanto, destas instituições na sociedade? Para muitos, sobretudo em uma sociedade democrática, os partidos políticos funcionam como uma espécie de veículos de ideologias, nos quais os cidadãos se vinculam para a afirmação de uma determinada vontade pública. Porém, a prática tem nos mostrado que, cada vez mais, os partidos e os políticos são guiados por um profundo fisiologismo.
Essa situação é ditada pelo empreguismo e emparelhamento que atendem tão somente aos interesses partidários. Digo isso porque, segundo o Estado de Minas, na edição do último dia 16, quase 60 legendas aguardam análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar entrar no cenário político brasileiro, que conta atualmente com 35 partidos oficialmente registrados. Ora, até que ponto a criação de mais partidos, além dos atuais, significaria uma democracia forte e estruturada? Como sabemos, é direito constitucional a livre manifestação e a criação de novas associações. Porém, conforme diz a própria matéria do jornal, o sistema partidário brasileiro está mais para uma sopa de letras eleitoral. E mais: este ano, o fundo partidário reservado para as legendas será de R$ 819,1 milhões. Um quinhão interessante para os partidos e partidários, sobretudos os afiliados que já exercem algum cargo público. Portanto, Drummond não precisaria ir muito além da definição dada às instituições partidárias. Os partidos realmente não vêm cumprindo com a sua finalidade de criação.