Foi mais do que acertada a decisão da atual diretoria da Petrobras de
assumir e registrar em balanço contábil que a empresa, patrimônio e
orgulho dos brasileiros, foi a primeira e maior vítima de uma combinação
de corrupção e de incompetência. “Estamos com sentimento de vergonha
por tudo isso. Eu me somo aos 86 mil funcionários da empresa e faço um
pedido de desculpas”, declarou em entrevista o presidente da estatal,
Aldemir Bendine, ao anunciar prejuízo de R$ 21,58 bilhões em 2014.
A
atitude não elimina os enormes desafios que a Petrobras tem pela
frente, mas é passo indispensável para a retomada da credibilidade de
uma das petrolíferas de maior potencial de crescimento no mundo e que
reúne reservas minerais, técnicas e humanas para se reerguer.
Bendine
levou menos de três meses, desde que trocou a presidência do Banco do
Brasil pelo comando da Petrobras, para chegar à decisão que, se tomada
há mais de 10 anos pelo governo (principal acionista), diretoria e
Conselho de Administração, certamente teria evitado o maior escândalo de
corrupção e a mais nefasta coleção de decisões que afetaram a
credibilidade e a saúde financeira da empresa.
Foi preciso que a
Justiça Federal de Curitiba abrigasse as investigações da Operação
Lava-Jato da Polícia Federal, que passaram a apontar desvios de dinheiro
da estatal do petróleo em trânsito pelo esquema de lavagem de um
doleiro, para que o escândalo viesse a público. Isso levou a PwC,
auditoria de reconhecimento internacional, a negar aprovação ao balanço
do 3º trimestre de 2014.
Até o anúncio de quarta-feira, o que se
viu foi a direção da Petrobras e, principalmente, os governos Lula e
Dilma Rousseff negarem a existência de problemas na estatal. Em maio de
2009, por exemplo, a então ministra da Casa Civil e presidente do
Conselho de Administração da empresa, Dilma Rousseff, já em campanha
(irregular) para a Presidência da República, afirmou em entrevista que a
Petrobras podia ter sido uma “caixa preta” nos governos anteriores, mas
que, àquela altura, contava “com um nível de contabilidade dos mais
apurados do mundo”. Não era verdade.
O prejuízo finalmente
registrado no balanço relativo a 2014, o maior da história da empresa, é
apenas o saldo das trapalhadas. A situação que a atual diretoria não
esconde (ou o balanço seria recusado de novo pela PwC) é muito pior. A
empresa fechou o ano com lucro operacional, mas ele foi insuficiente
para cobrir o impressionante rombo de R$ 50,8 bilhões, resultante da
desvalorização de ativos por falhas de gestão e de planejamento no valor
de R$ 44,6 bilhões, e de R$ 6,2 de perdas por corrupção em suas
contratações de serviços.
Os critérios que levaram a esses
resultados podem ser discutidos, afinal, não se trata de levantamento
simples. Mas a transparência dos registros e a firmeza com que Bendine
os assumiu revela inequívoca disposição de virar essa página no âmbito
da empresa (agora é com a Justiça). Com isso, a Petrobras já pode – e
certamente vai – retomar sua trajetória de sucesso. Resta a lição de que
nenhuma empresa, nem a Petrobras, sobrevive à perversa combinação de
corrupção com incompetência. O país, também, não.