A Polícia Federal impediu (de 12 de junho a 7 de julho) que nada menos de 267 estrangeiros entrassem no território nacional. Procedentes de 26 países, eles caíram na rede por diferentes razões. Alguns eram integrantes de torcidas violentas. Outros, investigados por crimes no exterior. Um, norte-americano, suspeito de pedofilia.
O êxito da operação se deve a planejamento estratégico cuidadoso. De um lado, o intercâmbio de informações. De outro, a integração de policiais internacionais — além dos brasileiros, profissionais de 31 nações que disputaram a Copa do Mundo, de cinco países fora do certame, de integrantes da Interpol, da ONU e de outros organismos mundiais. Reunidos em centro de cooperação em Brasília, foi possível dar agilidade à troca de informações.
Até espertinhos, que conseguiram burlar a vigilância policial nas fronteiras e nos aeroportos, tiveram a alegria interrompida. Descobertos, foram deportados ou intimados a se retirar em prazo determinado. É o caso do italiano que se disfarçou de cadeirante ou do líder barra brava que diz ter visto a partida Argentina x Suíça em São Paulo, disfarçado de torcedor suíço.
Graças a todos esses cuidados, os jogos têm transcorrido com indiscutível segurança. Famílias têm podido ir aos estádios sem medo, com a certeza de usufruir o espetáculo da bola. A guerra se restringe ao campo, disputada por pés e cabeças. As torcidas se manifestam com as armas da civilidade — aplausos e gritos de apoio ou vaia. Nada mais adequado ao espírito esportivo, em que deve imperar a disputa sem dar vez a qualquer tipo de violência. Mesmo ontem, ante a derrota do Brasil para a Alemanha, no pior desempenho da Seleção em todas as Copas, o comportamento da torcida no Mineirão foi exemplar, não deixando de aplaudir os adversários por sua indiscutível superioridade no jogo.
É certo que fora dos estádios, em meio à multidão que foi às concentrações organizadas para dar lugar à alegria com que brasileiros e estrangeiros viveram até aqui a Copa, não faltaram os que se excederam, provocando confusões localizadas. Brigas que, a propósito, nada tiveram a ver com as manifestações oportunistas de cunho político ou corporativo que, longe dos gramados, apenas se aproveitaram do momento para constranger as autoridades, chamar a atenção da mídia e, não raro, serviram de escada para vândalos mascarados, adeptos de inútil quebra-quebra.
No saldo, a contenção da barbárie deve figurar entre os legados da Copa do Brasil. Mas não deve se restringir ao Mundial que ocorre a cada quatro anos. A lição aprendida precisa ser aplicada nos jogos nacionais e internacionais. E torcedores individuais ou integrantes de torcidas organizadas devem ter uma certeza: a violência tem preço: além da punição penal, a proibição de entrar em estádios onde ocorram disputas. Com os recursos da tecnologia, a troca de informações e a identificação dos envolvidos em barbáries não constituem tarefa de difícil execução. Basta a vontade de levar o projeto avante. A Copa de 2014 serve de exemplo e será imperdoável não aproveitá-lo.