Peixe morre pela boca, diz o dito popular. No caso do senador Demóstenes Torres (sem partido) o problema não foi comer exageradamente. Foi falar demais e sempre em nome da ética, dos bons costumes e do combate à corrupção. A cada escândalo envolvendo o governo federal e seus ministros lá estava ele na tribuna do Senado desfiando frases de efeito e, como um inquisidor, exigindo expulsão sumária, exoneração imediata, punição exemplar, apuração rigorosa e tudo mais.
Ex-procurador do Ministério Público, ele foi o campeão de votos em Goiás na disputa por uma vaga no Senado em 2002. Ao longo da carreira política, acumulou títulos lisonjeiros. Foi eleito pela Transparência Brasil um dos dez congressistas que mais apresentaram projetos relevantes no Congresso Nacional e apontado como uma das cabeças pensantes e influentes do Senado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Também ganhou de um renomado portal de notícias do Congresso Nacional o título de um dos melhores senadores da República e foi apontado por um revista de circulação nacional como uma das pessoas mais influentes do Brasil, com destaque no quesito honestidade.
Na página que mantém na internet e em seu perfil na rede social Twitter não faltam elogios à sua atuação em Brasília, sempre com destaque para a cruzada empreendida em nome da honestidade e do combate aos desvios da política. Demóstenes vinha sendo apontado como um dos principais nomes para a disputa pelo governo de Goiás ou quem sabe o nome do DEM para a sucessão de Dilma Rousseff, em 2014. Agora ele aparece envolvido até a pescoço com o crime organizado.
O que mais assusta nessa derrocada não é o fato de um senador ser pego envolvido em negócios tão obscuros, já que outros figurões da República foram flagrados em situação parecida. O espanto vem da revelação da verdadeira faceta do senador, de guardião-mor da ética e da moralidade a operador de bicheiro. Com gosto de vingança, a oposição comemora os apuros do senador, mas é bom colocar as barbas de molho. O caso Demóstenes respinga em toda a classe política. Independentemente do partido, ele é mais um político flagrado em atitudes nada republicanas.