Chama o Chico Buarque. Líderes, tanto da oposição quanto da base de apoio ao governo na Câmara dos Deputados, juram de pés juntos que são a favor de regulamentar o teto salarial dos servidores públicos. “Faz me rir, ha-ha-ha”, dá vontade de cantar, diante de tanta sinceridade dos nobres parlamentares. Hoje, o teto salarial no funcionalismo público é de R$ 26,7 mil, mas há servidores que acumulam penduricalhos e chegam a ganhar até R$ 60 mil, com dinheiro pago pelo contribuinte. Os líderes no Congresso sabem que a briga não é deles, mas dos funcionários, tanto do Legislativo quanto do Judiciário, talvez em maior escala neste poder. Por isso, fingem que lavam as mãos, porque sabem que, por mais que o governo se esforce, não será fácil estabelecer um teto que não seja cabível de ações na Justiça. Como sonhar não custa, é preciso não perder a esperança. O pesadelo já existe, se melhorar um pouquinho já terá valido a pena.
Se não dá para confiar nos políticos, chama a tenção o otimismo do povo brasileiro. Em plena crise econômica mundial, com potências se derretendo na Europa e com os Estados Unidos obrigados a cortar na própria carne para não chegar à bancarrota, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que o medo de perder o emprego chegou a 78,7 pontos, o menor índice desde 2006. Para se ter uma ideia, 57,6% dos trabalhadores, o maior grau de otimismo em toda a série histórica do levantamento, dizem não estar com medo de perder o emprego. Na outra ponta, são 12,8% os que declaram ter muito medo de ficar desempregados. Como se diz no Brasil, crise? Que crise?
Levantamento do Ibope, por outro lado, revela que o governo federal, as prefeituras e a Presidência da República perderam pontos no grau de confiança da população. Nenhuma novidade em relação ao Congresso, aquele do faz me rir do início. Já era o pior e ficou pior ainda: caiu de 35 para 28 no grau de confiança. Para não deixar de falar em flores, a imprensa também caiu.