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Homens dignos que salvam vidas tratados como criminosos porque cansaram de pedir seus direitos. Daqui a cem anos isso vai constar em sua biografia Governador Sérgio Cabral. Não deixe que seus netos e bisnetos digam: "Vovô era um monumento de ignorância. A política era feita de batalhas diárias!". |
Senhor Governador:
Dirijo-me ao senhor com respeito. O senhor talvez não goste do que escrevo – na condição de jornalista estou sempre fazendo críticas ao seu governo. Mas, repito, escrevo respeitosamente porque o senhor, por desejo do povo fluminense, ocupa o mais alto cargo executivo no estado em que vivo. Tenho, portanto, o dever de tratá-lo com deferência. Respeitando-o, respeito à vontade da população. Porém, senhor Governador, este dever não é só meu. Ele é também, e, sobretudo, seu. E o senhor está falhando.
O que se espera de um governante? Vou propor minha definição e acredito que o senhor concordará com ela. Espera-se que seja justo, criativo, honrado e tenha ao seu lado pessoas igualmente honradas. Quanto ao primeiro desses predicados, não sei de nada que desabone o senhor. Existem, é claro, comentários aqui e acolá levantadas pela mídia em geral, mas nada provado e, por conseqüência, é justo supor que o senhor até prove em contrário, seja um homem do bem.
E por isso revolvi escrever. Não acho justo o que está acontecendo com o s bombeiros do RJ. Apelo para sua consciência e pergunto-lhe: como pode um pai de família sobreviver com 900 reais, numa cidade como o Rio de Janeiro? Não é possível que um homem que salva a vida dos outros, seja tão desvalorizado e depreciado. Isto é sério! A escravidão já acabou há muitos anos, e se o Estado não valorizar seus homens quem irá valorizá-los? Dizer que herdou essa situação de outros governos também não funciona.
Porque razão o senhor governador não foi pessoalmente negociar com seus homens, ao invés de mandar o BOPE? Eles estavam no quartel dos bombeiros - onde mais eles poderiam exercer os seus direitos de indignação? A intransigência do Estado tomou conta e deu lugar ao porrete. Resultado: deu no que deu. O Estado prendeu 439 bombeiros como se fossem criminosos. Em minha opinião, um verdadeiro absurdo, uma humilhação olímpica governador! Peralá, eles estavam no limite do estresse e deveriam ser respeitados.
A população que o elegeu ainda pode torcer para que o senhor a surpreenda com uma gestão ágil e imaginativa, digna de um homem público que tem estatura, maturidade e visão larga. Refiro-me evidentemente à política de segurança pública como um todo, da qual os bombeiros fazem parte.
Pense na honra desses homens! A honra... bem, honra é difícil de ser definida, trata-se de uma qualidade moral extremamente sutil; muito frágil. Ela não reside nos nossos atos, ainda que estes sejam conseqüência direta de sermos ou não homens honrados. Em outras palavras a honradez é um patrimônio da alma. Portanto, estamos diante de matéria imponderável, da qual só podemos falar se estabelecermos alguns critérios que assim, como o mercúrio de um termômetro, nos ajude a constatar sua presença em nosso caráter.
Eis o mercúrio: um governador honrado, por exemplo, é aquele que tem a capacidade de entender e perdoar os seus servidores. E neste teste senhor governador o senhor está mostrando certa dificuldade em passar nos exames. Ainda é tempo, governador. Deixe que os bombeiros voltem para suas casas e estabeleça um diálogo inteligente. Pare e pense!
Atenciosamente,
Eduardo Homem de Carvalho