No meio do segundo mandato, que termina sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apostou todas as fichas no mercado interno para enfrentar a crise econômica mundial eclodida em setembro de 2008, com a derrocada do mercado de crédito norte-americano. Reduziu impostos, ofertou crédito, valorizou o salário mínimo e, com isso, estimulou a produção e o consumo. Uma situação praticamente inédita no país, que gerou grande oferta de empregos e geração de renda, além do ataque à pobreza extrema com o programa Bolsa-Família. Os trabalhadores, em geral, apoiaram a política encetada por Lula e depositaram confiança na sua continuidade. Lula segurou até onde pode, contudo, logo no início de novembro, dias depois das eleições, o Brasil já convivia com a sinalização nada positiva de algumas autoridades econômicas. De Brasília vinham informações de que o combate à inflação voltava a ser uma preocupação no seio do governo que será assumido por Dilma Rousseff dia 1º. Lula adiantou e deve sancionar o Orçamento Geral da União (OGU) para 2011 com um salário mínimo embutido de R$ 540, nada além disso, como querem as centrais sindicais e outras correntes do governo em ocaso, além da oposição, que defendem algo entre R$ 560 e R$ 580. Dezembro começou com uma pequena restrição ao crédito, que pode aumentar já no início da gestão da sucessora de Lula. O objetivo, segundo o Planalto, é frear o consumo crescente, que não teria correspondência na ponta da produção, uma política que a sociedade brasileira considerava extinta da vida brasileira.
O câmbio desfavorável ao país e o aumento das taxas de juros também remam contra o emergente mercado interno. Certos segmentos empresariais temem o fortalecimento da especulação financeira e a invasão de produtos estrangeiros, pelas mais variadas formas. Há menos de um mês, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Olavo Machado, assinou o artigo “Desindustrialização”, quando abordou a questão, que pode influenciar diretamente o nível de empregos no país. O governo também sinaliza com aumento de impostos e com a volta da CPMF, travestida de Contribuição Social para a Saúde (CSS), e o corte de gastos públicos, especialmente nos investimentos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A equipe econômica de Lula tenta buscar o equilíbrio financeiro das contas do país e também o controle da inflação, para passar uma casa em ordem para Dilma Rousseff. Contudo, seria recomendável ao novo governo que a partir de segunda-feira, primeiro dia útil de 2011, não adotasse velhas receitas anti-inflacionárias recessivas, que premiam a voracidade dos bancos e prejudicam a produção, o emprego e a renda. Se bem que são os bancos é que mandam, é que ditam as regras do jogo...O Brasil aparentemente maduro ao longo da década que finda, herança deixada por FHC, experimentando um longo período de estabilidade econômica e bem-estar social. A continuidade dessa política foi o principal compromisso eleitoral de Dilma, com o aval do presidente que se despede. Só que pelo andar da carruagem, pela antipatia da dona eleita as previsões não são otimistas. Algumas lideranças dos trabalhadores já adiantam que não aceitarão a política do “freio de arrumação” à custa dos seus empregos e salários. Quem viver verá.