Observamos, estupefatos, após a cerimônia de abertura das Olimpíadas, no
Rio de Janeiro, muito bonita por sinal, uma explosão de manifestações
pseudopatrióticas e ufanistas, típicas de torcidas que acontecem no
plano do futebol e da política partidária, partindo até de pessoas que,
em tese, seriam mais politizadas e com cultura e discernimento para
identificar os valores que compõem uma nação de forma mais realista,
Assim, diante da tela cheia de mostras culturais e pinceladas por um
show de iluminações e adereços, vimos manifestações emotivas e
declarações tais como ‘voltei a ter orgulho do Brasil’, ‘resgatado o
orgulho de ser brasileiro’, ‘desde Ayrton Sena não sentíamos orgulho da
nossa nação’ e por aí uma série de citações do gênero. Ressalte-se que a
cerimônia foi mesmo muito bonita e emotiva, tal como um filme de
‘levantar a moral abatida’. Porém, daí a deixar a mente viajar para fora
da realidade e atribuir isso a um orgulho nacional vai uma diferença
enorme.
Ou seria o desconhecimento do que seria de fato o orgulho
enquanto qualidade, aproximando-se mais da arrogância, da soberba, da
altivez exacerbada e do excesso de admiração por si próprio. Seria algo
parecido com sentirmos orgulho de ter uma estátua impotente na Bahia da
Guanabara com os braços abertos sobre todas as mazelas, misérias,
violências e corrupções existentes lá embaixo. Sim, estátua bonita e que
chama a atenção, mas daí ter orgulho nacional de tê-la seria um
descalabro mental. Questionados fomos ao afirmar que o Brasil causa
vergonha e que o fato de pertencer a esta nação chega a nos causar asco,
ao falar sobre a vontade de abandonar o território e entregar os
pontos, como sendo algo horripilante e como se não estivéssemos fazendo
nada para tentar mudar esta situação.
Esquecem-se de que os que passam
uma vida inteira tentando são levados a uma situação de desânimo e de
impotência mental, mostrando um quadro permanente de inutilidade de
esforços diante da pouca gente que realmente tenta mudar.
Quisera que
esta força ufanista e manifestações patrióticas tidas como
“politicamente corretas” fossem de fato canalizadas para que o foco da
realidade não fosse tirado sobre o que de fato ocorre em nossas vidas e
nossas famílias, dia após dia, ano após ano, mergulhados num antro de
corrupção política, como maus eleitos e péssimos votantes, em um povo
(nosso povo) no qual permeia o oportunismo e a busca de levar vantagens
indevidas em todos os contatos sociais, até no trânsito e nas filas de
supermercados, criminalidades, violências alimentadas, educação
ridícula, saúde paupérrima, segurança inexistente, descaso com o meio
ambiente, economia destruída, religiões que se transformaram
simplesmente em agentes financeiros, desrespeito às pessoas, às
crianças, aos idosos, às escolas, às instituições, enfim, tudo isso e
mais alguma coisa.
E tem gente que diz brigar quando ouve ‘falar mal do
Brasil’. Ter o orgulho de quê?