A mais nova fase da Operação Lava-Jato, desencadeada na manhã de ontem,
apresentou, pela primeira vez, elementos consistentes de que a
organização criminosa montou um grande esquema de corrupção além dos
limites da Petrobras. Os investigadores descobriram, na 11ª fase,
intitulada de “A Origem”, que a quadrilha também fincou seus tentáculos
no Ministério da Saúde e na Caixa Econômica Federal, uma espécie de
“valerioduto” com a participação de uma agência de publicidade e
empresas de fachada. A principal suspeita é de que os desvios foram
cometidos para alimentar campanhas eleitorais. Após prender os
operadores e os empreiteiros, no ano passado, agora, a Polícia Federal
colocou atrás das grades integrantes que perderam foro privilegiado do
núcleo político da quadrilha. Foram presos os ex-deputados André Vargas
(SP), Luiz Argôlo (BA) e Pedro Corrêa (PE), que já cumpria pena em
regime semiaberto por ter sido condenado no mensalão.
Além dos
políticos, a Polícia Federal colocou na prisão Ricardo Hoffmann, ex-vice
presidente da agência Borghi/Lowe em Brasília; Leon Vargas, irmão de
André Vargas; a secretária de Argôlo, Elia Santos da Hora; e um laranja
de Corrêa, Ivan Torres. Além dos sete mandados de prisão, a PF cumpriu
nove de condução coercitiva e 16 de busca e apreensão. Todos os presos
foram encaminhados ontem à noite para a sede da PF em Curitiba (PR).
Os
investigadores descobriram que a agência de publicidade Borgui/Lowe,
que firmou contratos com a Caixa e o Ministério da Saúde para o
desenvolvimento de campanhas institucionais, repassava 10% do valor
recebido para duas empresas de fachada controladas pelos irmãos Vargas. A
LSI e a Limiar, uma consultoria e a outra de serviços empresariais, não
desenvolviam atividades. A LSI teve apenas um funcionário entre 2011 e
2012 e a Limiar nunca possuiu um empregado sequer. De acordo com o
Portal da Transparência, do governo federal, a Borghi/Lowe recebeu R$
112,8 milhões da União desde 2011. Segundo o juiz Sergio Moro, que
coordena as investigações da Lava-Jato, há suspeita de que a Borghi/Lowe
tenha pago propina aos irmãos Vargas para obter vantagens em contratos
em outros órgãos públicos.
“A quantidade de crimes nos quais
Vargas se envolveu é indicativa da habitualidade e profissionalismo na
prática de delitos, especificamente corrupção e lavagem”, disse Moro, em
seu despacho. Ele relatou que Vargas se envolveu em quatro esquemas
diversos de corrupção e lavagem de dinheiro em curto espaço de tempo. O
apartamento dele e de sua mulher, Edilaira Gomes, no Bairro de
Alphaville, em Londrina, no valor de R$ 980 mil, foi sequestrado pela
Justiça.
‘PROFISSIONAL DO CRIME’ A acusação que recai sobre Pedro
Corrêa é de que ele tenha recebido valores diretamente de Yousseff pelo
esquema de corrupção na Petrobras, até mesmo no período em que era
julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão. O
juiz Sérgio Moro se refere a ele como “um profissional do crime”. Moro
diz que a prisão preventiva de Corrêa, que cumpre pena pelo mensalão,
não é inócua porque ele está no regime semiaberto. Nesse caso, ele pode
sair da cadeia durante o dia para trabalhar. Com a nova prisão, ele
volta para o cárcere fechado.
Luiz Argôlo foi flagrado em várias
interceptações telefônicas e troca de mensagens com Alberto Youssef. De
acordo com a investigação, o ex-parlamentar emita notas fiscais falsas
para receber dinheiro em espécie das mãos do doleiro. Argôlo teve o
pedido de cassação aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara, mas a
legislatura acabou antes que o processo fosse para o plenário da Casa.
Ele não se reelegeu nas eleições do ano passado.
REPASSES
SUSPENSOS Na tarde de ontem, o Ministério da Saúde comunicou a imediata
suspensão dos pagamentos à agência de publicidade Borghi/Lowe,
contratada em 2010. Em nota, a pasta diz que “os contratos para a
realização de campanhas de utilidade pública cumprem todos os requisitos
exigidos na legislação de licitação” e que abriu apuração interna para
analisar as denúncias. Também em nota, a Caixa informou que, da mesma
forma, abrirá apuração interna para averiguar os fatos.
A
Borghi/Lowe ressaltou apenas que “as autoridades estão buscando
informações quanto a um ex-funcionário”. A agência alegou que “cooperou
ativamente atendendo a ordem judicial e continuará a fazê-lo”. O
advogado Marcus Gusmão, que defende André Vargas, disse que a defesa
ainda analisa os documentos que embasaram a prisão do ex-deputado. A
reportagem não localizou os advogados de Pedro Corrêa e de Luiz Argôlo.