O papa Francisco não gosta de ser chamado de comunista, marxista ou o que
for. Para ele, defender os pobres é uma das bandeiras dos cristãos e
está no evangelho. No entanto, suas críticas ao sistema capitalista, ao
consumismo e ao culto ao dinheiro, feita em missas, entrevistas e até
mesmo em documentos oficiais do Vaticano já pregaram nele esse rótulo.
Ainda mais depois do anúncio do presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, um país majoritariamente protestante e que nunca deu muita pelota
para o Vaticano, de que o papa foi um dos responsáveis pela
intermediação do acordo histórico de reaproximação com Cuba.
Independentemente
de como queiram tachá-lo e das concepções religiosas, ou não, de cada
um, o papa argentino é uma das melhores surpresas do ano que se encerra.
Em 19 meses de pontificado, assumido de surpresa, depois da
surpreendente renúncia de Bento XVI, Francisco mostrou uma outra face da
Igreja, menos conservadora, mais acolhedora e preocupada com as pessoas
do que com os protocolos, pompas e regras que a cercam.
Um papa que
acredita na Teoria da Evolução e no Big Bang, que rejeita a história de
Adão e Eva e da existência de fogo no inferno e que critica as
interpretações da Bíblia que apontam Deus como um mago, dotado de uma
varinha mágica. Que está elaborando uma encíclica (documento dirigido
aos bispos de todo o mundo) que vai tratar, entre outros assuntos, da
família moderna, que não é necessariamente formada por um casal
heterossexual com filhos. E que repudia discriminação contra gays, comum
em muitas igrejas e religões. Um papa que prega ternura frente às
dificuldades do mundo. Um político, no melhor sentido da palavra, um
revolucionário, um socialista cristão.