O palhaço Tiririca, como se sabe, teve
votação estrondosa nas eleições passadas em cima do slogan 'pior do que está
não fica', incorporando tanto o voto de protesto quanto o voto alienado, o
voto dos que acreditavam com isso bagunçar o que rejeitam nessa política que
não os representa. Uma vez no Congresso, o deputado Tiririca demonstrou que
realmente não piorou a nossa representação, ao contrário a melhorou até.
Mesmo não fazendo nenhum discurso durante esses quatro anos, mesmo
apresentando poucos projetos, o deputado compareceu a todas as sessões,
votou em tudo de forma coerente, com a sua história e com as ideias do seu
partido, participou ativamente de comissões e, isso é importante, não foi
alvo de nenhuma acusação quer por irregularidades, quer por comportamento
inadequado à função. O que não se pode dizer de uma boa parte daquela Casa.
Pois bem, agora candidato à reeleição ele se vê num dilema cruel. Se
reivindica pra si essa boa performance, vira um deputado comum e, aí, sem o
'appeal' da transgressão, do protesto, correria ou risco forte de não se
reeleger. Daí é obrigado a assumir nesta campanha a caricatura dele mesmo
enquanto candidato deputado com mandato, voltando à velha forma com
piadinhas descabidas, com gracinhas niilistas, e negando o que de melhor
teve a nos oferecer: o artista enquanto ente político, independente do seu
nível cultural. Mas se a gente pensar bem, principalmente observando a
campanha eleitoral atual, isso não é incomum.
O que se nos apresenta
enquanto candidatos (com raríssimas exceções) são personagens construídos
para seduzir eleitores. Ninguém é ele mesmo na busca pelo voto, todos se
travestem do personagem que possam incorporar e que teria alguma adesão com
os desejos do eleitor. O problema é que, se eleitos, voltam a serem eles
mesmos, e daí..."