Ainda não há estatísticas oficiais, mas é fato que uma onda de
linchamentos, espancamentos e casos de justiça feita por conta própria
tem ganhado força no Brasil. Cada vez mais casos do gênero são
noticiados e muitos contam com o apoio de uma parcela da população. O
fenômeno não é restrito ao Brasil. Na Argentina, fatos semelhantes vêm
acontecendo e suscitaram até mesmo manifestação recente do papa
Francisco, que condenou, em carta, essa forma de violência.
O
primeiro caso recente de repercussão no Brasil aconteceu no Rio de
Janeiro, quando um adolescente acusado de assalto foi agredido e
amarrado nu em um poste. Desde então, casos semelhantes ganharam força
em todo o país. E para agravar o quadro, muitas das agressões são
filmadas e exibidas nas redes sociais, sem nenhum constrangimento. Pelo
contrário, as imagens e fotos são quase sempre postadas como um troféu
por quem participa da barbárie.
A violência em alta e a
incapacidade dos governos estaduais e federal de lidar com o problema da
insegurança estão por trás de tudo isso. Mas não é só. As instituições
do Estado sofrem de um descrédito crescente. A polícia mata sem dó nas
periferias da cidade. As milícias agem livremente. A Justiça é lenta e
quase sempre pune apenas os mais fracos. A segurança privada garante aos
que têm dinheiro uma vida mais segura, enquanto a população pobre vive
ao léu. Há anos o Congresso promete reformar a Justiça e as leis, mas
tudo continua como antes. É nesse vácuo que essas manifestações de
violência ganham corpo. São os tempos do olho por olho, dente por dente.