O secretário de Estado americano, John Kerry (foto), chega ao Brasil amanhã em visita oficial que coincide com o escândalo gerado pelas denúncias de espionagem realizada por agências norte-americanas. Ele e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, vão ter uma agenda calcada na diplomacia, mas, com certeza, tensa. Vão acertar a visita oficial da presidente Dilma Rousseff a Washington, em 23 de outubro, a primeira de um mandatário brasileiro em 15 anos. Contudo, o prato principal serão as denúncias feitas pelo ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos Edward Snowden sobre uma espionagem global, que atingiu em cheio o Brasil. Por causa dessas denúncias, o Congresso Nacional iniciou uma investigação e na semana passada ouviu o jornalista Glenn Greenwald, colunista do jornal britânico The Guardian no Rio de Janeiro e a quem Snowden entregou vários documentos. Glenn afirmou que a intercepção de dados eletrônicos e telefônicos no mundo todo é usada pelos EUA não só para combater o terrorismo, mas também para obter vantagens comerciais e industriais.
Kerry e Patriota levarão à mesa do encontro todos os aspectos da relação entre os dois países, com ênfase para o comércio. Se Kerry vai tentar superar o incidente e retomar a agenda positiva com a América Latina, iniciada este ano pelo presidente Barack Obama, não se sabe, mas fatalmente ele deve chegar preparado para responder a questões a respeito das acusações de espionagem reveladas por Snowden. Há uma semana, o ministro Patriota esteve em Nova York e declarou que o Brasil ainda está insatisfeito com as justificativas apresentadas até agora pelos norte-americanos para as práticas de espionagem. O diplomata brasileiro afirmou que a ação fere direitos individuais e internacionais e precisa ser esclarecida. Na Organização das Nações Unidas (ONU), os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) entregaram ao secretário-geral Ban Ki-moon uma nota de repúdio ao procedimento de Washington. No mesmo documento, os chanceleres expressaram também revolta ao fato de alguns países da Europa não terem permitido a aterrissagem do avião em que viajava o presidente da Bolívia, Evo Morales, suspeito de levar Edward Snowden, acusado de vazar segredos da inteligência dos EUA.
É passivo que John Kerry, que assumiu o cargo em fevereiro, em sua primeira viagem à América do Sul, vem com o propósito de aparar as arestas decorrentes do problema da aventada espionagem. O terreno precisa ser acertado para a viagem da presidente Dilma aos EUA para tratar com o colega Barack Obama a melhoria do fluxo de comércio bilateral e dos investimentos norte-americanos no Brasil. No roteiro de Kerry está também a Colômbia, onde o secretário de Estado vai discutir com o presidente Juan Manuel Santos o apoio da Casa Branca às conversações do governo de Bogotá para um acordo de paz com a guerrilha colombiana, que mina o país vizinho há décadas. Pelo visto, Washington passou a ver a América do Sul com a merecida atenção e importância que tem no cenário mundial.