A
interessante fábula do teólogo e escritor, Rubens Alves, conta a história de um
bando de ratos que vivia no buraco do assoalho de uma velha casa, ansiosos para
pegar um pedaço de um enorme queijo protegido por um gato. Havia ratos de todos
os tipos, mas ninguém ligava para as diferenças, porque todos os ratos estavam
irmanados em torno de um sonho comum: matar o gato e comer o queijo.
Nenhum
rato queria prejudicar o outro, pois, naquele momento, todos eram amigos e
solidários. Num belo dia, para surpresa dos ratos, o gato sumiu. A partir daí o
comportamento dos roedores mudou completamente: os ratos mais fortes se
apossaram do queijo impedindo que os ratos mais fracos tivessem qualquer participação
na divisão do alimento.
Os
ratos mais fracos passaram, então, a depender da boa vontade dos mais fortes, à
espera de alguma migalha que lhes saciasse a fome. De tão dependentes,
não conseguiam perceber a diferença entre o gato de antes e os ratos de agora.
Mesmo assim, compreenderam que quando um rato forte fica dono do queijo, vira
gato.
Fazendo
um paralelo entre a fábula do autor, a sociedade petista e a sociedade real,
podemos constatar que tanto naquela como nesta existem ratos em todos os órgãos
e poderes da nação. Para os que não se lembram, na Operação Navalha,
investigada pela Polícia Federal (PF), todos se uniram contra a forma de
atuação dos investigadores, inclusive alguns ministros do SupremoTribunal
Federal (STF), que, por conta de um vazamento de informações de um processo em
segredo de justiça, disseram temer que o Brasil se transformasse num Estado
policial.
As falcatruas recentes mostram o tamanho do rombo deixado pelos ratos
encastelados em todos os órgãos e poderes da República. O mensalão, que parecia
o último, foi apenas mais um. Na sequência vieram outros, principalmente na construção dos
circos esportivos para a Copa do Mundo. Não é sem razão, pois, as mudanças de
estratégia dos ratos fortes para se manterem no buraco; precisam constantemente
de novos meios para proteger o queijo que comem.
Para
tanto, contam com a fraqueza da memória nacional. O ministro Cezar Peluso,
quando atuava no STF, desempatou o julgamento contra Jader Barbalho (5 a 5),
atingido pela “Lei da Ficha Limpa”, a favor do acusado, sintetizando, numa
frase, as razões jurídicas do seu voto: “Não quero contrariar ninguém”.
Diante
disso, fica difícil para os gatos que encheram as ruas do país contra a
corrupção vigiar o queijo.