Veja como são as coisas no Brasil. E ainda tem gente que reclama quando se diz que este não é um país sério. Depois de refugar num primeiro instante, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu liberar o acesso do inquérito contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o caso e ao Conselho de Ética do Senado. O processo corre em segredo de Justiça. Com todo o cuidado que o caso merece, o STF não entregou os autos na sexta-feira porque o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), não foi encontrado em seu gabinete. Pois é. O problema é que boa parte do processo já está nas páginas dos principais jornais do país. Com detalhes.
Não foi à toa que o Supremo Tribunal Federal decidiu acionar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal para apurar os nomes dos responsáveis pelos vazamentos. A decisão foi tomada depois de uma conversa do relator, ministro Ricardo Lewandowski, com o presidente da Corte, ministro Ayres de Britto. É a velha história: depois de o cofre ser arrombado, troca-se a chave. Não vai adiantar. A imprensa já está anos-luz à frente da CPI, que nem começou a votar as dezenas de requerimentos já apresentados pelos deputados e senadores. E vai continuar assim.
O inusitado é que, no despacho em que autorizou a entrega dos autos ao Poder Legislativo, o ministro Lewandowski fez questão de alertar que os documentos não poderiam ser vazados à imprensa ou a pessoas que não sejam integrantes da CPI, porque eles estão sob “segredo de Justiça”. Bem, o Supremo tomou os seus cuidados e seguiu a lei, como não poderia deixar de ser. O alerta, no entanto, parece ter vindo tarde demais. Os vazamentos de documentos da investigação feita pela Polícia Federal não vão parar e, se a CPI não entrar em ritmo acelerado, estará sempre um passo atrás dos jornais e revistas. É só esperar para ver.