Por
Nelson Oscar de Souza,
desembargador aposentado do TJRS
desembargador aposentado do TJRS
Fomos induzidos a acreditar, nos
últimos oito anos, que “nunca antes houvera um país, um governo e um
presidente,” tão bons como aqueles. E uma formidável massa de
eleitores, inclusive letrados, acreditaram nesse bordão e votaram maciçamente
na candidata do presidente. No nordeste, grande soma de municípios votou nela
com índices superiores a 80 e, até, 92 % !
Curiosamente, os primeiros a notar que
os fatos propalados não eram bem assim, foram os integrantes do novo governo, a
começar pela senhora presidente. E a “herança maldita” que o
ex imputava à administração de Fernando Henrique Cardoso, transformou-se em uma
verdadeira herança maldita advinda dos mandatos do companheiro que impusera ao
partido o nome da candidata vitoriosa...
Essa situação – aparentemente
surrealista – começou a se tornar matéria frequente, repetida e uníssona na
mídia que, antes, em boa parte, fazia eco aos proclamos do “nunca
antes”. Basta ligar a televisão, basta abrir jornais e revistas. E é o
que procurarei demonstrar.
“O Brasil
demorará até 20 anos para ter padrão de vida europeu", diz o
ministro da Fazenda – o mesmo do governo anterior...
“Custo de vida no
Brasil supera o dos Estados Unidos”, quando medido em dólares sobre
o PIB dos 187 países membros conforme o FMI, a quem emprestamos dólares...
Enquanto isso, o governo pagou em junho do ano que passou, R$ 15,8 bilhões só
para pagar a dívida pública do país, que anda rondando os dois trilhões de
reais !
“Mais que o PIB da
Inglaterra nós, brasileiros, já temos. Pena que renda per capita igual só daqui
a 20 anos”, acrescenta manchete do dia seguinte.
“Impostos ‘comem’ 40%
do salário do brasileiro” : o que não é para menos, já que contamos,
como nunca antes, com 63 impostos nas três esferas da Federação. Mas, em
compensação, segundo dados publicados ontem, entre os países pesquisados pela
ONU, fomos classificados em último lugar quanto ao retorno desses impostos em
serviços públicos oferecidos à população. E, em matéria de IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano (saúde, segurança, educação) - ficamos
classificados em um honroso 84º lugar.
E, para bancar o sistema elétrico
brasileiro, deveremos pagar, nós os contribuintes, R$ 19 bilhões a mais, em
2012, na conta da luz, do que o fizéramos no ano anterior.
No Rio Grande do Sul, a indústria
apresentou índices pífios de desenvolvimento, recuando até mesmo com relação a
determinados meses de 2011. A manchete: “Atividade industrial gaúcha
não dá sinais de retomada”, segundo a Fiergs.
Pesquisa demonstra a insatisfação dos
usuários do sistema de saúde do SUS. O índice de 61% declara-o ruim ou péssimo,
continuando as filas, que o ex-presidente afirmou terem desaparecido; e o
atraso no atendimento de cirurgias ultrapassa os 12 meses, ou mais, em
reiteradas situações demonstradas pela tevê.
Pelo que se vê, realmente, nunca houve
antes um país como este: mas a responsabilidade, sublinhe-se, não cabe toda à
atual senhora presidente – que ainda deve à nação um sério e consistente plano
de realizações em nossa infra-estrutura absolutamente defasada (estradas,
portos, esgotos...) -, mas às carências na administração de seu
criador.
O próprio PAC – por falta de
projetos e planejamento adequados – continua ancorado na burocracia e não
aplica sequer 20% das verbas que lhe foram destinadas no ano eleitoral e no
corrente. E este fora o carro-chefe da propaganda da então candidata...
Na política... bem, deixemos para
outra oportunidade.
Os números transcritos originam-se em
dados oficiais e nenhum desmentido governamental pode fazer-se sentir.
Como explicar, então, os assombrosos índices de aprovação do anterior e da
atual presidente ?!
Ainda não encontrei explicações
concludentes para o assunto. Mas deverão surgir e certamente terão muito
a ver com a desinformação e a incultura política de nossa gente. Aguardemos a
palavras dos doutos...