A relação médico-paciente é uma versão peculiar das interações entre as pessoas, sobre as quais a psicologia e a sociologia, entre outras disciplinas, acumularam nas últimas décadas um grande acervo de conhecimento. Ainda na universidade, os médicos aprendem a importância de saber lidar com seus pacientes, mas é no dia a dia da profissão que se evidencia o peso dessa relação.
A imagem do médico genial, mas sem habilidade alguma para lidar com seus pacientes – construída para o protagonista da série House –, não existe fora do universo da ficção. Dois exemplos ilustram bem essa ideia. Maria, uma jornalista jovem e bem-sucedida, ouviu de seu ortopedista que, se quisesse se ver livre das tendinites de punho que a afligiam constantemente, precisaria mudar de profissão. Caso contrário, avisou o médico, teria dores para sempre. “Como assim mudar de profissão se o que sei fazer é ser jornalista?”, perguntou, já aos prantos, no consultório. “Isso eu não sei lhe responder”, respondeu com frieza. Ela entrou em depressão, seguida de uma acentuada piora no seu quadro clínico. Só vários meses depois, passado o tratamento analítico e psiquiátrico, conseguiu procurar outro médico. Muito mais hábil, ele a orientou a fazer uma série de adaptações ergonômicas que possibilitaram sua permanência na profissão.
O médico de uma amiga, ficou bem atrás no quesito tato. Instantes depois de dar à luz seu primeiro filho, antes mesmo de pegar a criança nos braços, ela ouviu do pediatra da sala de parto que devia procurar com urgência um geneticista, pois seu filho era portador da síndrome de Down. A notícia caiu como uma bomba antes mesmo que ela estabelecesse os primeiros vínculos afetivos com o filho. Hoje, mãe e filho estão bem e unidos, mas ela levou meses se tratando de uma severa depressão pós-parto. Em ambos os casos, os médicos não deram informações erradas a seus pacientes só fizeram uma pequena lambança na cabeça da paciente! Seus conhecimentos técnicos endossaram o que disseram, mas a falta de capacidade de avaliar a situação em que seus pacientes se encontravam desencadeou sérios problemas emocionais e piora clínica. Situações como essas nos levam a sustentar que o exercício da medicina requer capacidade de compreensão do que transcorre sob a superfície de cada paciente.
Os cirurgiões plásticos, por receber pacientes com insatisfações físicas, muitas vezes vinculadas a insatisfações afetivas e frustrações, estão mais propensos à sobrecarga emocional do que colegas de outras especialidades. O paciente busca na relação com esse profissional não só um pai que o oriente, mas também uma mãe que cuide dele e um mágico com poderes divinos e transformadores, que mude sua imagem e sua vida para melhor. Alguns esperam que a cirurgia plástica lhes devolva também o prazer de viver. Nessas horas, a correta leitura do perfil psicológico do paciente, bem como a percepção de seus sofrimento e anseios, a prática da verdade, da humildade, da prudência, da generosidade, entre outras, define um bom médico. Essas virtudes, somadas ao aperfeiçoamento técnico- científico constante, determinam a credibilidade profissional do cirurgião plástico.
Na relação médico-paciente devem imperar ainda a confiança mútua, o sigilo, o respeito ao próximo, o bom empenho na busca do melhor tratamento para o paciente, a explicação detalhada e clara sobre os exames e tratamentos, bem como seus riscos e benefícios. O cirurgião plástico deve, desse modo, usar o melhor do progresso científico, mostrando o que deve e o que não deve ser feito, em cada caso específico, oferecendo a melhor atenção e o maior zelo ao paciente. A perícia do profissional – ou seja, sua capacidade de executar determinada cirurgia – deve ser inquestionável. Como deve ser inquestionável sua sensibilidade.