As campanhas eleitorais não são mais do que campanhas de comunicação. Vence o candidato que convencer um número maior de eleitores e isso se aplica a qualquer tipo de campanha, seja para síndico de prédio ou para presidente da república.
Os argumentos de convencimento podem variar. Podem ser, no caso de uma eleição para síndico, o “eu sou o único que quer” ou “moro na cobertura”. No caso de uma eleição para presidente de um clube de futebol, “levarei o nosso time para a final” ou “comigo, seremos campeões”. No caso de eleição para o governo ou para a prefeitura da cidade, “eu faço isso ou aquilo e tudo o que ganhei e tenho na vida custou barato e, por isso, é muito” ou “tenho um emprego muito bom para você”; “sou uma pessoa digna”, “quero ser síndico da cidade”.
Enfim, os argumentos de convencimento são inúmeros, adaptados ao ambiente, à função em disputa e ao grau de cara de pau, honestidade de propósito ou cinismo dos candidatos.
Assim como há uma infinidade de argumentos, há também um sem número de veículos para transmitir os discursos proferidos, as conversas promovidas, os artigos escritos, as entrevistas, os bate-papos, os diálogos, as gritarias. Eles podem ser os canais de TV e rádio, os espaços nos jornais, panfletos, o banco da praça, o palanque do comício, o playground do prédio, o templo de uma igreja, um estádio de futebol ou um blog, blog, site, Orkut, Youtube etc.
Numa democracia, é legítimo que nas campanhas eleitorais, sejam elas para a escolha de síndicos ou de presidentes e governadores, se regulamente o uso dos locais e dos espaços, para que não surjam loucos ou deseducados, que queiram atravessar a noite em conversas acaloradas no playground do prédio ou em dissertações intermináveis na TV e rádio, situações que incomodam ou impossibilitam a isonomia. O que uma democracia não admite limitar é o direito dos candidatos de falarem, de dizerem o que bem entenderem e para os excessos que agridam a moral, os costumes ou a dignidade dos adversários, ela disponibiliza a legislação corrente, ordinária ou extraordinária.
No Brasil, não é desse modo. Por aqui, a regulamentação do uso dos veículos de comunicação, espaços por onde o discurso, o contraditório da sociedade e a defesa dos argumentos caminham, se dá no campo da definição do que os candidatos podem ou não podem dizer ou divulgar. Isso é, definitivamente, uma tirania e pouco importa que os seus autores sejam reconhecidos democratas com assento no Congresso Nacional.
É o que se dá, no presente, com a regulamentação que o Congresso tenta impor e não elaborar, para o uso da internet nas eleições de 2010. Como os políticos - parte deles presente no Congresso Nacional - sabem que não será uma tarefa fácil sustentar as próprias imagens de gente de bem, por conta da lama que muitos deles construíram em torno deles mesmos, a providência mais fácil será limitar o debate, o contraditório que a sociedade colocará nos espaços livres e gratuitos dos canais da internet.
Na cabeça dos agentes da limitação há mais desejo de censura do que houve, no passado, na cabeça dos verdugos fardados. Os autores da limitação só não vão aos playgrounds, às praças, às ruas e aos campos para impedir o debate, porque não há mais policiais dispostos a fazer esse serviço sujo. Até fazem alguns outros, mas estes, não mais.